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INTRODUÇÃO

Sociologia  é a uma ciência que pretende descrever e explicar os fenómenos sociais, quer dizer, os que estão relacionados com a interacção e agrupamento dos seres sociais.

Para entender o que é a Sociologia, uma primeira abordagem que se pode tentar é a etimológica, isto é, por meio da compreensão da origem dessa palavra. Em 1836, no volume III da obra chamada Cours de philosophie positive (Curso de filosofia positivo), o francês Auguste Comte uniu o radical de origem latina sócios com o radical grego logos, a fim de designar o estudo da sociedade feito de modo sistemático, racional e sujeito a verificações empíricas – surgia assim a palavra que designa, desde então, o estudo científico da sociedade: SOCIO-LOGIA. Esse estudo adopta o princípio de que somente factores sociais (e não psicológicos, biológicos, religiosos, etc.) explicam as práticas e instituições sociais. De uma forma muito breve, é nisso em que consiste a Sociologia.

Por outro lado, podem ter uma preocupação mais académica, isto é, fazerem pesquisas “puras”, como tam­bém podem examinar questões práticas para sugerir alterações em instituições e em comportamentos sociais. Essas são chamadas de pesquisas aplicadas. Nesse caso, os sociólogos verificam os efeitos sociais de políticas de combate à fome, ao analfabetismo e à discriminação racial ou os efeitos da política monetária, o sucesso da integração regional via Mercosul, as políticas de promoção da cultura popular e assim por diante.

Essas quatro possibilidades – abordagens genéricas ou especializadas e estudos puramente académicos ou aplicados – não esgotam as actividades dos sociólogos, e um mesmo sociólogo pode desenvolver, ao mesmo tempo, vários tipos de actividades.

A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA

A ciência pode ser definida  como o esforço do homem para inquirir e pesquisar a natureza. A ciência é a prática do conhecimento cujo objectivo é, cada vez mais afastar as fronteiras do desconhecido. Procura transformar a nossa experiência real e vivida naquilo que denominamos por conhecimento cientifico. Que dizer, a ciência deve procurar passar do nível da familiaridade que temos das coisas para o conhecimento a respeito das mesmas. Todo o conhecimento é cientifico quando geral e sistemático.

Podemos entender como umas das manifestações do pensamento moderno. Desde Copérnico a evolução do pensamento  foi exclusivamente científica. A sociologia veio preencher a lacuna do saber social, surgindo após a constituição das ciências naturais e de várias ciências sociais. A sua formação constitui um acontecimento  complexo, para o qual concorrem circunstâncias históricas e intelectuais e intenções  com os últimos momentos da desagregação da sociedade feudal e com a consolidação da sociedade capitalista.

A sociologia enquadra-se no âmbito das ciências  sociais. Assim é de todo interesse, nesta fase de exposição do presente capitulo, apresentar, desde já alguns tópicos  comparativos entre a sociologia e outras ciências. No começo do século XX sociólogos e antropólogos que conduziam estudos sobre sociedades não industrializadas, ofereceram contribuições a antropologia. A diferença entre sociologia e antropologia tem mais a ver com os problemas teóricos colocados e os métodos de pesquisas do que os objectos de estudo.

Nesse aspecto, como mostrado por Karl Marx e outros, a pesquisa em economia é frequentemente influenciada por teorias sociológicas. Por fim, a filosofia social procura generalizar as explicações e procedimentos observados na sociedade, tentando construir uma teoria que possa explicar, inclusive as variações no comportamento social, enquanto a sociologia, por sua vez, é mais especifica no tempo e no espaço.

CARACTERIZAÇÃO EPISTEMOLÓGICA DA SOCIOLOGIA

Ao inserir-se no quadro das chamas ciências sociais, a sociologia pertence aos sector do conhecimento que se ocupa particularmente dos aspectos da vida do ser humano no seu relacionamento com outros indivíduos e grupos. A sociologia estuda, por conseguinte, as relações entre os homens enquanto seres que só se realizam, em plenitude, na convivência com outros seres da mesma espécie. Mas é claro que existem outras ciências sociais que se ocupam igualmente do homem sob este mesmo aspecto, isto é, o das relações sociais. Então, é legitimo perguntarmos, desde logo, o que distingue propriamente a sociologia das outras ciências também sociais.

Provisoriamente, podermos dizer que a sociologia é a única ciência social que se ocupa das relações entre os homens nos seus aspectos mais genéricos, analisando o comportamento humano na medida em que este é afectado pela vida em sociedade, estudando ao mesmo tempo o produto dessas inter-relações, ou seja as instituições sociais. Mais recentemente, outras ciências sociais ligaram-se á sociologia e ao estudo do comportamento dos indivíduos em sociedade e aparecem ciências como antropologia (estudo das influências do meio físico sobre a sociedade), a demografia e comunidade e investigação de processos sociais globais.

Se antigamente se atribuía a origem de certos males sociais a entidades espirituais ou a entidade metafísicas, hoje, pela mão da sociologia, temos conhecimento de que os factos sociais se explicam pelos próprios factos sociais. São exemplos disso as formas de amor, namoro e casamento, a saúde e a doença, o crime e o castigo, o trabalho e o lazer, etc.

A sociologia não explica nem pretende explicar tudo o que ocorre na sociedade, nem todo o comportamento humano. Muitos acontecimento  humanos escapam aos seus critérios. Ela toca, porém, em todos os domínios da existência humana em sociedade. Por essa razão, a abordagem sociológica, através dos seus conceitos, teorias e métodos pode constituiu para as pessoas  um excelente instrumento de compreensão das situações com que se defrontam na vida quotidiana, das suas múltiplas relações sociais e, consequentemente, de si mesmas como seres inevitavelmente sociais.

HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA

O processo de discussão sobre a origem de qualquer disciplina cientifica, onde também se inclui a sociologia, está sempre envolto em alguma polémica. Com efeito distintas abordagens são efectuadas e, como consequência, diferentes marcas ancestrais são referenciadas.  Como Rodriguez Ibáñez (1989:22) assinala: se a história aparece é porque a discussão acerca da teoria e do método não pode prescindir dela.

Para alguns autores, a sociologia enquanto ciência independente que analisa os fenómenos sociais, nasce em 1839 quando Auguste Comte introduz o vocábulo “sociologia”. Outros associam a sua origem ao contributo das doutrinas sociopolíticas de Montesquieu, Rousseau, Saint-Simon e Hegel. Outros há que defendem as investigações empíricas, levadas a cabo por estudiosos de formação diversa, como constituindo a fonte originária da sociologia moderna. Porém, no que se refere a estes últimos, importa referenciar que os ditos investigadores tai como médicos, homens de negócios, engenheiros e biólogos, entre outros, estavam mais interessados em descrever os graves problemas decorrentes da revolução industrial do que contribuir para as questões teórico-metodológicas.

No seu inicio, a sociologia caracterizou-se por ser uma ciência eminentemente teórica, na qual o empirismo aparecia subordinado á teoria. Reconhece-se a importância da investigação, mas como um instrumento para reforçar a teoria. Rodriguez Ibáñez (1989) sintetiza a evolução da teoria sociológica em duas linhas fundamentais:

  1. Estrutural que vai do positivismo clássico, evolucionismo, a teoria de sistema, passando por Pareto e essencialmente, pela reformulação sociológica de Durkheim e pelo funcionalismo;
  2. Intersubjectiva que tem a sua origem em movimentos não estritamente sociológicos. Esta proposta encontra a sua expressão em Max Weber, juntamente com outras figuras mais contemporâneas como Tonnies, Simmel e, anos mais tarde, nos representantes da teoria crítica e nas correntes fenomenológicas.

Spencer  (1820-1903) foi expoente máximo dessa etapa. A sua principal tese é a de que o mundo se rege por uma lei de evolução, tanto a matéria organiza como a própria sociedade. Assim, duas ideias principais estruturam o seu pensamento:

  1. A compreensão da sociedade como um organismo assemelha os organismos sociais aos biológicos;
  2. A ideia da evolução social.

CARACTERIZAÇÃO EPISTEMOLÓGICA DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

A sociologia  da educação é um ramo  da sociologia que estuda a educação enquanto fenómeno social. Ocupa-se, por isso, da origem social da Educação, das suas manifestações sociais, do seu conteúdo social, das suas instituições sociais, do seu desenvolvimento social, da sua função social, dos seus objectivos sociais, das suas possibilidades sociais e dos seus agentes sociais.

De uma maneira sistemática analisa-se os conteúdos de diferentes manuais da matéria, na qual podem ver-se os temas que integram a especialidade. A outra é a perspectiva histórica que consiste no estudo directo dos autores e seu entendimento particular do que é a sociologia da Educação, bem como dos conteúdos que lhe têm sido atribuídos e o modo de tratar os temas. Tanto uma perspectiva como a outra permitem analisar o objecto da sociologia da educação em três níveis: macrossociológico, intermédio e microssociológico.

  • Nível macrossociológico – neste nível estuda as relações do sistema educativo com a sociedade. Trata-se de uma analise recíproca e dialéctica entre a sociedade e o sistema educativo.
  • Nível intermédio – neste nível analisa a composição e as características dos diferentes grupos, actores e agentes que integram o sistema educativo. As principais temáticas deste nível  o currículo, a contextualização do conhecimento e os livros de textos, bem como o aluno e o professor enquanto grupos sociais.
  • Nível microssociológico, estudase o que sucede na escola, o que se passa nas aulas, na sala de professores e recreio. Quer dizer, as interacções que se produzem dentro da escola, das turmas, salas e recreios e sua correspondência com aspectos relevantes da estrutura social, como as diferentes culturas no seio dos alunos.

HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Em 1899, o norte-americano John Dewey (1859-1952) publicava a obra Escola e sociedade”, a qual dá origem a uma numerosa produção nos estudos Unidos da América. Em 1902, o francês Émile Durkheim (1858-1917) pronunciava o seu discurso de ingresso na disciplina de ciências da Educação, na Sorbonene, sob o titulo “Pedagogia e Sociologia”. Este discurso, que tem sido considerado como a origem mais genuína do que hoje se entende por sociologia da Educação, foi publicado em 1922, já após o falecimento de Durkheim, na obra Educação e sociologia.

Durkheim é o iniciador da Sociologia da Educação, sendo ainda muito reconhecido hoje em dia, segundo a sua (já clássica) definição: a educação é a acção exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que não se encontram ainda preparada para a vida social; tem por objectivo suscitar a desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade politica no seu conjunto e por meio especial ao que cada criança particularmente se destine. A educação é a socialização metódica das novas gerações, sendo para isso decisiva a sociedade.

A evolução temática das últimas décadas poderia esquematizar-se assim: nos anos cinquenta há uma orientação económica pautada por uma certa preocupação social, em que predomina o tema da igualdade de oportunidades, e que vai até ás abordagens mais críticas, essencialmente sob a perspectiva marxista. Actualmente, há uma maior influência da sociologia do saber.

A partir dos anos setenta, vai-se perdendo o optimismo inicial que todos sentiam relativamente á expansão do sistema educativo. Começa-se a ter consequência de que a escola não é o grande instrumento de reforma social. A igualdade na escola não conduzem á redução das diferenças económico-sociais nem contribuiria para a melhor redistribuição dos rendimentos, nem para a eliminação da pobreza. Com efeito, apesar da redução das desigualdades educativas, nos últimos anos tem-se  verificado, paradoxalmente ou não, um aumento das desigualdades económicas. Neste clima de desânimo surgem as correntes críticas.

 

 

 

CONCLUSÃO

 

Após das pesquisas realizadas e em conformidade com as mesmas concluímos  que; a sociologia mostra que é necessário adoptar uma respectiva mais abrangente do modo como somos e das razões pelas quais agimos. Ensina-nos que o que consideramos  natural, inevitável, bom ou verdadeiro pode não o ser, e que o que tomamos como dado nas nossas vidas é fortemente influenciado por forças históricas e sociais. Compreender as maneiras ao mesmo tempo subtis, complexas e profundas, pelas quais as nossas vidas individuais reflectem os contextos da nossa experiência social é essencial á perspectiva sociológica.

Quanto a caracterização epistemológicas da sociologia, ela ocupa-se da observação do que é repetitivo nas relações sociais, para a partir daí, formular generalizações teóricas. Na qual há duas sociologias, porém uma é a sociologia do sistema social e outra é de acção social.

A sociologia desenvolvida por Weber considerava o individuo e a sua acção como ponto-chave da investigação. Com isso, ela queria salientar que o verdadeiro ponto de partida da sociologia era compreensão da acção dos indivíduos e não a análise das instituições  sociais ou do grupo social, tão enfatizadas pelo pensamento conservador a obra de Max Weber foi determinante no desenvolvimento da teoria e da investigação empírica sociológica também foi notória.

Porém existem diversos modos de entender e fazer a sociologia da educação, e porém deste modo existem dois modelos fundamentais que são as teorias de Consenso e as teorias de conflito.

A escola é vista como lugar em que se reflectem as contradições da sociedade e a partir da qual a pode provocar a reforma social. Actualmente, em todos os países em que se cultiva a sociologia da educação, pode sempre encontra-se um grupo de autores que se segue a tendência marxista.

BIBLIOGRAFIA

Sociologia da Educação e Administração Escolar – Grupo Porto Editora.

https://www.significados.com.br/sociologia/

INSTITUIÇÕES DEDICADAS NA MANUTENÇÃO DA PAZ E OS DIREITOS HUMANOS

INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos, as operações de manutenção da paz se tornaram notavelmente mais complexas. Os deveres e as responsabilidades das operações de paz passaram a estar além do tradicional monitoramento de cessar-fogos e de frágeis acordos de paz, passando também a abarcar aspectos como a protecção a civis, o estado de direito, a reforma do sector de segurança, a assistência humanitária e o desarmamento, a desmobilização e reintegração (DDR) de combatentes, só para mencionar alguns.

Esta ambiciosa abordagem em relação ao conceito de manutenção da paz aumentou as expectativas das populações nos estados que recebem as missões de manutenção da paz, tanto no que diz respeito à segurança física imediata como no tocante à capacitação das autoridades nacionais. Ela vem também acompanhada de maiores desafios e demonstrou a importância para a comunidade internacional do desenvolvimento de uma abordagem coerente que considere a complexidade das operações de manutenção da paz.

As acções praticadas pelos membros das forças de paz das Nações Unidas em conformidade com seu mandato de proteger civis, em especial as medidas destinadas a convencer as partes de um conflito armado a cumprirem com o DIH, também podem assumir um papel fundamental ao melhorar o destino das populações civis afetadas por conflitos armados. Estas ações refletem a obrigação de respeitar o DIH e garantir que este seja respeitado, conforme o estipulado no Artigo 1o comum às Convenções de Genebra de 1949, cujas normas regem as Nações Unidas e os países que enviam tropas, contribuindo assim para garantir que esta importante obrigação internacional seja postas em vigor.

 

 

INSTITUIÇÕES DEDICADAS NA MANUTENÇÃO DA PAZ

 

As organizações internacionais, quer sejam de carácter geral ou específico, quer tenham objectivos económicos, sociais, ambientais ou militares, contribuem de forma positiva para o fortalecimento da paz, uma vez que estabelecem relações amigáveis de interesse entre os estados, tornando desta forma o conflito armado entre membros menos provável.

Após 2ª Guerra Mundial, com a extinção do fascismo e do nazismo, subsistiram duas grandes correntes ideológicas responsáveis pela divisão do mundo em dois pólos. De um lado os capitalistas, liberais e democratas, liderados pelos EUA; do outro os comunistas, tendo por país líder a URSS. Em seguida surgiram várias instituições em focar-se no papel de termos da segurança e defesa, bem como entre elas são:

  1. OTAN: Defensora da Segurança na Europa

Com o desaparecimento da ameaça de uma invasão militar “socialista” à Europa Ocidental, a OTAN teve de ser reestruturada num sentido menos preventivo de um conflito de grandes proporções, e mais com objetivos de cooperação em matéria de segurança. Segundo os neo-realistas, com o fim de uma ameaça, as alianças têm tendência a quebrar-se, o que não sucedeu com a OTAN (Kaplan, 1999). Para compreendermos essa realidade, não nos podemos olvidar que a OTAN é mais do que uma organização militar, ela é igualmente um instrumento político. O lado político da Aliança está visivelmente na linha da frente, permitindo que a Aliança atue como uma sede de consulta, com o intuito de coordenar e harmonizar opções políticas, promovendo o processo de relações entre os países ocidentais e de leste.

Esta consulta incorpora assuntos políticos, mas também assuntos de planejamento da defesa, da emergência civil, cooperação em relação ao armamento, etc. O seu envolvimento não se circunscreve aos acontecimentos que ocorrem dentro da área da Aliança, mas abrangem acontecimentos fora dessa área geográfica, que têm implicações para a mesma. A propósito da sua redefinição, Vaclav Havel afirmou que a Aliança era acima de tudo um instrumento em prol da democracia, defensora de valores políticos e espirituais.

  1. UE: o desenvolvimento da Política Europeia de Segurança e Defesa (PESD) 

A União Europeia, que reúne 25 Estados com mais de 450 milhões de habitantes, com uma produção que representa ¼ do PNB mundial é forçosamente um ator global. Após Guerra-Fria a UE procura agir também como actor global a nível da segurança internacional, assumindo desta forma a sua quota-parte de responsabilidade. Jean Pierre Chevènement, antigo Ministro Francês da Defesa, afirmou em 1989: “Os recentes acontecimentos internacionais estão a encorajar-nos a tomar conta da nossa própria segurança, ao mesmo tempo que nos estão a oferecer novos meios para o fazer”. (Nye, 1993: 119). O desenvolvimento de uma Identidade Européia de Segurança e Defesa (IESD) permitiria uma maior responsabilidade Européia no que concerne à sua segurança e defesa, diminuindo desta forma a dependência em relação à OTAN e aos EUA.

O Tratado de Maastricht, que entrou em vigor em 1993, introduz no seu capítulo V a política externa de segurança comum (PESC). A PESC inclui todas as questões relativas à segurança da União Européia e pretende salvaguardar os valores comuns e interesses fundamentais, bem como reforçar a segurança dentro da União Européia. Os seus objetivos são a manutenção da paz e da segurança internacional, a promoção da cooperação internacional e o desenvolvimento e consolidação da democracia, respeito pelos direitos humanos, pela liberdade e pela lei.

  1. OSCE e a Vertente Humana

A OSCE reflecte o desafio da cooperação multilateral. No entanto, ela continua ” uma amálgama incoerente de um processo e estrutura organizacional com reduzidos meios de ação à sua disposição.” (Mckenzie, 1998: 119). A OSCE é, sobretudo um espaço de consultas regulares sobre a política de segurança. Segundo Igor Ivanov, a OSCE é uma instituição de cooperação e assistência e não um instrumento de pressão e punição, reprovando as tentativas de usar a OSCE como instrumento de pressão sobre os países membros (Ivanov in Façon, 1997).

A existência do veto na OSCE para cada um dos estados-membros faz com que, em caso de uma crise que exija que todos garantam conjuntamente a segurança e que imponham soluções, tenha de se enfrentar os diferentes valores e interesses, sobretudo se um dos membros estiver diretamente envolvido na crise. Outra lacuna da OSCE situa-se na ausência de meios e capacidades militares independentes para agir em caso de necessidade, sendo por isso impossível agir por conta própria. Para assegurar uma maior eficácia da OSCE no que respeita à segurança e a cooperação Européia, seria necessário que os seus membros aumentassem o seu apoio em relação à organização – apoio político, mas também financeiro.

Em termos operacionais, a OSCE tem um papel significativo na diplomacia preventiva, ou seja, na prevenção de conflitos e crises, desempenhando igualmente um papel central no controlo de armamento, criando normas que garantem o sucesso dos esforços para a diminuição dos mesmos. Com maior incidência estão as missões da OSCE no que concerne à reabilitação das regiões no pós-conflito. Daqui convém realçar uma das funções primordiais da OSCE, ou seja, a defesa dos direitos humanos e das minorias, bem como o desenvolvimento econômico das regiões afetadas por crises. As operações de Manutenção da Paz, que também são cobertas pela OSCE, são levadas a cabo com os meios e capacidades cedidos pela OTAN ou pela UEO.

  1. ONU: Prevenção De Conflitos E Construção Da Paz

O principal objectivo da ONU é a manutenção da paz. A organização global  clarifica princípios contra o uso da força; deslegitima o colonialismo ocidental; pronuncia-se em situações específicas; apoia o desarmamento e o controlo de armamento; e encoraja os estados a se desarmarem”. Como afirma Kofi Annan, a ONU detém um papel indispensável, uma vez que “Actualmente, nenhum estado, apesar de poderoso, é capaz de se proteger a si próprio. Da mesma maneira, nenhum país, grande ou pequeno, pode alcançar a prosperidade num vacuum”. As actuais funções da ONU, em termos de segurança e defesa, são sobretudo no desarmamento e no seu controlo; as questões humanitárias; a promoção e projecção dos direitos humanos; a diplomacia preventiva; as missões de manutenção da paz e a sua função de clarificar princípios contra o uso da força.

No entanto, no que respeita às acções da ONU num contexto de Segurança e Defesa, podemos afirmar que “o seu envolvimento é pequeno demais, tardio e pode estar afastado de disputas mais significativas”.

Em 2002, a ONU manteve 15 operações de Manutenção da Paz e 13 missões políticas de Construção da Paz. No que diz respeito às operações de Manutenção da Paz, elas ocorreram na Europa (5); em África (4); no Médio Oriente (4); e na Ásia e Pacífico (2). No que respeita às missões de Construção da Paz, elas tiveram lugar na África; na Ásia e Pacífico; e na América Central. Estas operações cobrem uma série de necessidades que incluem o desarmamento, a proteção dos direitos humanos, os conflitos étnicos, a corrupção estadual, a realização de eleições democráticas, entre outros.

  1. O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV)

O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) gostaria de fazer algumas observações desde sua perspectiva como uma organização neutra, independente e imparcial e que não integra o sistema das Nações Unidas, mas que foi incumbida pela mesma comunidade de estados a agir em situações de conflito armado de acordo com as Convenções de Genebra e seus protocolos adicionais.

A interacção entre as Nações Unidas e o CICV cresceu consideravelmente, tanto no nível da sede como no terreno, em especial no que diz respeito a assuntos operacionais relacionados à assistência, à protecção e ao Direito Internacional Humanitário (DIH). Em nossa opinião, a interacção é fundamental, já que os membros das forças de paz são com frequência enviados a países afectados por conflitos armados onde o CICV também opera.

Em tais situações, o DIH oferece um marco legal de protecção e por isso tem se tornado cada vez mais relevante para os membros de forças de manutenção da paz. Mais do que isso, quando os responsáveis por manter a paz se vêem afectados por hostilidades, o DIH também é um corpo jurídico que rege as operações das forças das Nações Unidas. O respeito ao DIH e a garantia de que este seja respeitado deve por tanto ser um elemento chave na implementação da protecção de missões civis por missões de manutenção da paz das Nações Unidas. Não deve haver dúvidas de que a proteção a indivíduos e comunidades durante conflitos armados e outras situações de violência se tornou uma das grandes prioridades das operações de manutenção da paz.

OS DIREITOS HUMANOS

Direitos humanos são os direitos básicos de todos os seres humanos. São direitos civis e políticos (exemplos: direitos à vida, à propriedade privada, liberdade de pensamento, de expressão, de crença, igualdade formal, ou seja, de todos perante a lei, direitos à nacionalidade, de participar do governo do seu Estado, podendo votar e ser votado, entre outros, fundamentados no valor liberdade); direitos económicos, sociais e culturais (exemplos: direitos ao trabalho, à educação, à saúde, à previdência social, à moradia, à distribuição de renda, entre outros, fundamentados no valor igualdade de oportunidades); direitos difusos e colectivos (exemplos: direito à paz, direito ao progresso, autodeterminação dos povos, direito ambiental, direitos do consumidor, inclusão digital, entre outros, fundamentados no valor fraternidade).[1] A Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas afirma que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”

A ideia de “direitos humanos” tem origem no conceito filosófico de direitos naturais que seriam atribuídos por Deus;  alguns sustentam que não haveria nenhuma diferença entre os direitos humanos e os direitos naturais e veem na distinta nomenclatura etiquetas para uma mesma ideia. Outros argumentam ser necessário manter termos separados para eliminar a associação com características normalmente relacionadas com os direitos naturais, sendo John Locke talvez o mais importante filósofo a desenvolver esta teoria.

Também, à visão ocidental-capitalista dos direitos humanos, centrada nos direitos civis e políticos, como a liberdade de opinião, de expressão e de voto, se opôs, durante a Guerra Fria, o bloco socialista, que privilegiava a satisfação das necessidades elementares, porém que suprimia a propriedade privada e a possibilidade de discordar e de eleger os representantes com eleições livres de múltipla escolha.

 

HISTÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS

 

Um dos documentos mais antigos que se vinculam aos direitos humanos é o Cilindro de Ciro, que contém uma declaração do rei persa Ciro II depois de sua conquista da Babilônia em 539 a.C. Foi descoberto em 1879 e a Organização das Nações Unidas o traduziu em 1971 a todos os seus idiomas oficiais. Pode ser resultado de uma tradição mesopotâmica centrada na figura do “rei justo”, cujo primeiro exemplo conhecido é o rei Urukagina, de Lagash, que reinou durante o século XXIV a.C. Cabe destacar, também, nessa tradição, Hamurabi da Babilônia e seu famoso Código de Hamurabi, que data do século XVIII a.C. O Cilindro de Ciro apresentava características inovadoras, especialmente em relação à religião. Nele, era declarada a liberdade de religião e a abolição da escravatura. Tem sido valorizado positivamente por seu sentido humanista e inclusive foi descrito como a primeira declaração de direitos humanos.

Na Roma antiga, havia o conceito jurídico da concessão da cidadania romana a todos os romanos. O cristianismo, durante a Idade Média, foi a afirmação da defesa da igualdade de todos os homens numa mesma dignidade. Foi também durante esta época que os filósofos cristãos recolheram e desenvolveram a teoria do direito natural, em que o indivíduo está no centro de uma ordem social e jurídica justa, mas a lei divina tem prevalência sobre o direito laico tal como é definido pelo imperador, o rei ou o príncipe. Logo, foram criadas muitas teorias no decorrer do tempo.

Muitos filósofos e historiadores do direito consideram que não se pode falar de direitos humanos até a modernidade no Ocidente. Até então, as normas da comunidade, concebidas na relação com a ordem cósmica, não deixavam espaço para o ser humano como sujeito singular, concebendo-se o direito primariamente como a ordem objetiva da sociedade. A sociedade estamental tem seu centro em grupos como a família, a linhagem ou as corporações profissionais ou laborais, o que implica que não se concebem faculdades próprias do ser humano enquanto tal. Pelo contrário, se entende que toda faculdade atribuível ao indivíduo deriva de um duplo status: o do sujeito no seio da família e o desta na sociedade. “Fora do Estado, não há direitos”.

Com a Idade Moderna, os racionalistas dos séculos XVII e XVIII, reformulam as teorias do direito natural, deixando este de estar submetido a uma ordem divina. Para os racionalistas, todos os homens são, por natureza, livres, e têm certos direitos inatos de que não podem ser despojados quando entram em sociedade. Foi esta corrente de pensamento que acabou por inspirar o atual sistema internacional de protecção dos direitos do homem.

A evolução destas correntes veio a dar frutos pela primeira vez na Inglaterra, e depois nos Estados Unidos. A Magna Carta (1215) deu garantias contra a arbitrariedade da Coroa, e influenciou diversos documentos, como por exemplo o Habeas Corpus (1679), que foi a primeira tentativa para impedir as detenções ilegais. A Declaração Americana da Independência surgiu a 4 de Julho de 1776: nela, constavam os direitos naturais do ser humano que o poder político deve respeitar. Esta declaração teve, como base, a Declaração de Virgínia proclamada a 12 de Junho de 1776, onde estava expressa a noção de direitos individuais.

No século XVII e XVIII, filósofos europeus, destacando-se John Locke, desenvolveram o conceito do direito natural. Os direitos naturais, para Locke, não dependiam da cidadania nem das leis de um Estado, nem estavam necessariamente limitadas a um grupo étnico, cultural ou religioso em particular. A teoria do contrato social, de acordo com seus três principais formuladores, o já citado Locke, Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau, se baseia em que os direitos do indivíduo são naturais e que, no estado de natureza, todos os homens são titulares de todos os direitos.

 

CONCLUSÃO

Depois das pesquisas feitas o grupo conclui que a protecção de civis em conflitos armados está no núcleo do DIH e pode ser claramente visto em muitas de suas disposições. É por este motivo que a estreita obediência ao DIH por qualquer pessoa de alguma forma envolvida em hostilidades, inclusive os membros das forças de manutenção da paz das Nações Unidas, irá seguramente contribuir para a protecção de civis em zonas de conflito.

A existência dos direitos subjectivos, tal e como se pensam na actualidade, será objecto de debate durante os séculos XVI, XVII e XVIII, o que é relevante porque habitualmente se diz que os direitos humanos são produto da afirmação progressiva da individualidade e que a ideia de direitos do homem apareceu pela primeira vez durante a luta burguesa contra o sistema do Antigo Regime. Sendo esta a consideração mais estendida, outros autores consideram que os direitos humanos são uma constante na História e têm suas raízes no mundo clássico; também sua origem se encontra na afirmação do cristianismo da dignidade moral do homem enquanto pessoa.

Ao longo dos anos, as operações de manutenção da paz se tornaram notavelmente mais complexas. Os deveres e as responsabilidades das operações de paz passaram a estar além do tradicional monitoramento de cessar-fogos e de frágeis acordos de paz, passando também a abarcar aspectos como a protecção a civis, o estado de direito, a reforma do sector de segurança, a assistência humanitária e o desarmamento, a desmobilização e reintegração (DDR) de combatentes, só para mencionar alguns. Esta ambiciosa abordagem em relação ao conceito de manutenção da paz aumentou as expectativas das populações nos estados que recebem as missões de manutenção da paz, tanto no que diz respeito à segurança física imediata como no tocante à capacitação das autoridades nacionais. Ela vem também acompanhada de maiores desafios e demonstrou a importância para a comunidade internacional do desenvolvimento de uma abordagem coerente que considere a complexidade das operações de manutenção da paz.

 

BIBLIOGRAFIA

www.achegas.net/numero/vinteecinco/sandra_pereira_25.htm

 

 

A TOMADA DE CONSCIÊNCIA SOBRE OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM

INTRODUÇÃO

Direitos humanos são os direitos básicos de todos os seres humanos. São direitos civis e políticos (exemplos: direitos à vida, à propriedade privada, liberdade de pensamento, de expressão, de crença, igualdade formal, ou seja, de todos perante a lei, direitos à nacionalidade, de participar do governo do seu Estado, podendo votar e ser votado. Entre outros, fundamentados  no valor liberdade.

Direitos econômicossociais e culturais (exemplos: direitos ao trabalho, educação, à saúde, à previdência social, à moradia, à distribuição de renda, entre outros, fundamentados no valor igualdade de oportunidades); direitos difusos e colectivos (exemplos: direito à pazdireito ao progressoautodeterminação dos povosdireito ambientaldireitos do consumidorinclusão digital, entre outros, fundamentados no valor fraternidade).A Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas afirma que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Os direitos fundamentais, que podem ser entendidos como um conjunto de prerrogativas e instituições capazes de refletir ideais de liberdade, igualdade e dignidade entre os seres humanos, nascem com o próprio indivíduo e não cessam com a sua velhice. Sucede, porém, que as pessoas idosas, comumente, são vistas como um peso na sociedade, na medida em que se ignora que a longevidade foi uma grande conquista da humanidade ao longo dos anos, constituindo-se, inclusive, um dos principais fundamentos para o desenvolvimento dos países.

Hodiernamente, o grande desafio dos governos e da sociedade como um todo é assegurar, de maneira efectiva, o direito à vida, à dignidade, à independência, à assistência, dentre outros, a esse segmento populacional, elaborando políticas adequadas ao mundo globalizado.

ORIGEM DOS DIREITOS HUMANO

A ideia de “direitos humanos” tem origem no conceito filosófico de direitos naturais que seriam atribuídos por Deus; alguns sustentam que não haveria nenhuma diferença entre os direitos humanos e os direitos naturais e vêem na distinta nomenclatura etiquetas para uma mesma ideia. Outros argumentam ser necessário manter termos separados para eliminar a associação com características normalmente relacionadas com os direitos naturais, sendo John Locke talvez o mais importante filósofo a desenvolver esta teoria.

No século XVII e XVIII, filósofos europeus, destacando-se John Locke, desenvolveram o conceito do direito natural. Os direitos naturais, para Locke, não dependiam da cidadania nem das leis de um Estado, nem estavam necessariamente limitadas a um grupo étnico, cultural ou religioso em particular. A teoria do contrato social, de acordo com seus três principais formuladores, o já citado Locke, Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau, se baseia em que os direitos do indivíduo são naturais e que, no estado de natureza, todos os homens são titulares de todos os direitos.

A primeira declaração dos direitos humanos da época moderna é a Declaração de Direitos de Virgínia de 12 de Junho de 1776, escrita por George Mason e proclamada pela Convenção da Virgínia. Esta medida influenciou Thomas Jefferson na declaração dos direitos humanos que existe na Declaração da Independência dos Estados Unidos da América de 4 de Julho de 1776, assim como também influenciou a Assembleia Nacional francesa em sua declaração, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. As teorias que defendem o universalismo dos direitos humanos se contrapõem ao relativismo cultural, que afirma a validez de todos os sistemas culturais e a impossibilidade de qualquer valorização absoluta desde um marco externo, que, neste caso, seriam os direitos humanos universais. Entre essas duas posturas extremas situa-se uma gama de posições intermediárias. Muitas declarações de direitos humanos emitidas por organizações internacionais regionais põem um acento maior ou menor no aspecto cultural e dão mais importância a determinados direitos de acordo com sua trajectória histórica. A Organização da Unidade Africana proclamou em 1981 a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos[5], que reconhecia princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e adicionava outros que tradicionalmente se tinham negado na África, como o direito de livre determinação ou o dever dos Estados de eliminar todas as formas de exploração económica estrangeira.

Mais tarde, os Estados africanos que acordaram a Declaração de Túnez, em 6 de Novembro de 1992, afirmaram que não se pode prescrever um modelo determinado a nível universal, já que não podem se desvincular as realidades históricas e culturais de cada nação e as tradições, normas e valores de cada povo.

HISTÓRIAL DOS DIREITOS DO HOMEM

Um dos documentos mais antigos que se vinculam a tomada de consciências aos direitos humanos é o Cilindro de Ciro, que contém uma declaração do rei persa Ciro II depois de sua conquista da Babilônia em 539 a.C. Foi descoberto em 1879 e a Organização das Nações Unidas o traduziu em 1971 a todos os seus idiomas oficiais. Pode ser resultado de uma tradição mesopotâmica centrada na figura do “rei justo”, cujo primeiro exemplo conhecido é o rei Urukagina, de Lagash, que reinou durante o século XXIV a.C. Cabe destacar, também, nessa tradição, Hamurabi da Babilônia e seu famoso Código de Hamurabi, que data do século XVIII a.C.

 

Na Roma antiga, havia o conceito jurídico da concessão da cidadania romana a todos os romanos. O cristianismo, durante a Idade Média, foi a afirmação da defesa da igualdade de todos os homens numa mesma dignidade. Foi também durante esta época que os filósofos cristãos recolheram e desenvolveram a teoria do direito natural, em que o indivíduo está no centro de uma ordem social e jurídica justa, mas a lei divina tem prevalência sobre o direito laico tal como é definido pelo imperador, o rei ou o príncipe. Logo, foram criadas muitas teorias no decorrer do tempo.

.A conquista da América no século XVI pelos espanhóis resultou em um debate sobre direitos humanos na Espanha. Isto marcou a primeira vez que se discutiu o assunto na Europa.

Muitos filósofos e historiadores do direito consideram que não se pode falar de direitos humanos até a modernidade no Ocidente. Até então, as normas da comunidade, concebidas na relação com a ordem cósmica, não deixavam espaço para o ser humano como sujeito singular, concebendo-se o direito primariamente como a ordem objetiva da sociedade. A sociedade estamental tem seu centro em grupos como a família, a linhagem ou as corporações profissionais ou laborais, o que implica que não se concebem faculdades próprias do ser humano enquanto tal. Pelo contrário, se entende que toda faculdade atribuível ao indivíduo deriva de um duplo status: o do sujeito no seio da família e o desta na sociedade. “Fora do Estado, não há direitos”.

Com a Idade Moderna, os racionalistas dos séculos XVII e XVIII, reformulam as teorias do direito natural, deixando este de estar submetido a uma ordem divina.

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.OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM

Liberdade (Civil e Política)

Os direitos fundamentais do homem de primeira geração são aqueles atinentes à Liberdade (civil e política), cujo titular é o próprio indivíduo. Caracterizam-se, basicamente, como direitos de resistência ou de oposição perante o Estado. Nesse aspecto, assim lecciona o estudioso (2005, p. 564): São por igual direitos que valorizam primeiro o homem-singular, o homem das liberdades abstractas, o homem da sociedade mecanicista que compõe a chamada sociedade civil, da linguagem jurídica mais usual.

Juridicamente, o Estado também era implacável. Aos acusados, não cabia direito de defesa, tampouco de contraditório, submetendo-se a julgamentos secretos e confissões obtidas por meio de tortura. Ademais, eram amplamente aplicadas penas cruéis, desumanas e desproporcionais à gravidade do delito cometido.

Carácter Social

Ao conceituar os direitos fundamentais de segunda geração, os quais estão intimamente ligados ao Carácter Social, lecciona que eles “ visam a oferecer os meios materiais imprescindíveis à efectivação dos direitos individuais”.A fim de estabelecer um comparativo entre os direitos fundamentais de primeira geração e os de segunda geração, comporta trazer à baila os ensinamentos.

Os direitos de primeira geração tinham como finalidade, sobretudo, possibilitar a limitação do poder estatal e permitir a participação do povo nos negócios públicos. Já os direitos de segunda geração possuem um objectivo diferente.

Direitos De Solidariedade Ou Fraternidade

Hodiernamente, protege-se, no âmbito do direito constitucional, os chamados direitos fundamentais de terceira geração, ou direitos de solidariedade ou fraternidade, que consoante ensinamentos, englobam os direitos a um meio ambiente equilibrado, à qualidade de vida, ao progresso, à paz, à autodeterminação dos povos e outros direitos difusos. Ainda que inegável a importância que esses direitos têm para a sociedade contemporânea, vislumbra-se uma grande dificuldade em garantir, no meio jurídico, a sua efectiva protecção.

Historicamente, refere que os direitos fundamentais de terceira geração surgiram como fruto de um sentimento de solidariedade mundial, com o escopo de serem internacionalizados valores ligados à dignidade da pessoa humana, principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, em decorrência dos abusos praticados durante o regime nazista. Esses direitos visavam à protecção de todo o género humano e não apenas de um grupo de indivíduos”. Exemplifica, citando o direito ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à propriedade sobre o património comum da humanidade e à comunicação.

Democracia, à Informação e ao Pluralismo.

Conforme o posicionamento de grande parte da doutrina, a evolução dos direitos fundamentais não parou na terceira geração. A luta pela garantia da dignidade da pessoa humana é permanente na história da humanidade.

Trata-se do assunto como “direitos fundamentais de quarta geração”, define-se que estes estão relacionados ao direito à democracia, à informação e ao pluralismo. Portanto, correspondem à fase de institucionalização do Estado social.Os direitos de quarta geração não somente culminam a objectividade dos direitos das duas gerações antecedentes como absorvem – sem, todavia, removê-la – a subjectividades direitos individuais, a saber, os direitos da primeira geração.

 CONCLUSÃO

Depois das pesquisas feitas e de acordo com as mesmas o grupo conclui que; a existência dos direitos subjectivos, tal e como se pensam na actualidade, foram objecto de debate durante os séculos XVI, XVII e XVIII, o que é relevante porque habitualmente se diz que os direitos humanos são produto da afirmação progressiva da individualidade e que a ideia de direitos do homem apareceu pela primeira vez durante a luta burguesa contra o sistema do Antigo Regime. Sendo esta a consideração mais estendida, outros autores consideram que os direitos humanos são uma constante na História e têm suas raízes no mundo clássico; também sua origem se encontra na afirmação do cristianismo da dignidade moral do homem enquanto pessoa.

O Cilindro de Ciro apresentava características inovadoras, especialmente em relação à religião. Nele, era declarada a liberdade de religião e a abolição da escravatura. Tem sido valorizado positivamente por seu sentido humanista e inclusive foi descrito como a primeira declaração de direitos humanos.

Desde o nascimento da Organização das Nações Unidas em 1945, o conceito de direitos humanos se tem universalizado, alcançando uma grande importância na cultura jurídica internacional. Em 10 de Dezembro de 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adoptada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em sua Resolução.

RECOMENDAÇÕES

Desta feita o grupo recomenda que para essa realidade transcendente nos oferece o reflexo sobre o qual se pode realizar uma sociedade justa: o respeito incondicional a dignidade humana como fim último. A pessoa humana, em nenhuma hipótese, pode ser instrumentalizada para fins alheios a este que não seja a concretização de sua dignidade.

Ter a consciência de que nenhuma autoridade, em nome de um pretenso progresso civil futuro, pode submeter a injustas restrições a liberdade humana. Usando a pessoa como meio para justificar projectos de carácter económico, cientifico, religioso, social ou político alijado desse ideal perene.

A evitar a contradição porque muitas vezes dos direitos humanos é a abstracção em que eles são proclamados. Eles se pautam, muitas vezes, num humano alijado de existência real, abstracto, alheio. O Estado de Direito e a democracia ameaçados pela sanha totalitarista de ideologias que separaram os homens, fazem-lhes acepção de raça, estamento, cor ou qualquer distinção. Criando artificialmente conflito, alimentando ódios, criando inimigos. Enfim, separando irmãos. Por isso, não possuem o desprendimento necessário para perceber no outro a sua própria imagem.

ANGOLA

Angola, oficialmente República de Angola, é um país da costa ocidental da África, cujo território principal é limitado a norte e a nordeste pela República Democrática do Congo, a leste pela Zâmbia, a sul pela Namíbia e a oeste pelo Oceano Atlântico. Inclui também o exclave de Cabinda, através do qual faz fronteira com a República do Congo, a norte. Para além dos vizinhos já mencionados, Angola é o país mais próximo da colónia britânica de Santa Helena.

Os portugueses estiveram presentes desde o século XV em alguns pontos do que é hoje o território de Angola, interagindo de diversas maneiras com os povos nativos, principalmente com aqueles que moravam no litoral. A delimitação do território apenas aconteceu no início do século XX. O primeiro europeu a chegar a Angola foi o explorador português Diogo Cão. Angola foi uma colónia portuguesa que apenas abrangeu o actual território do país no século XIX e a “ocupação efectiva”, como determinado pela Conferência de Berlim em 1884, aconteceu apenas na década de 1920.

A independência do domínio português foi alcançada em 1975, depois de uma longa guerra de libertação. Após a independência, Angola foi palco de uma intensa guerra civil de 1975 a 2002, maioritariamente entre o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). Apesar do conflito interno, áreas como a Baixa de Cassanje mantiveram activos seus sistemas monárquicos regionais. No ano de 2000 foi assinado um acordo de paz com a Frente para a Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), uma frente de guerrilha que luta pela secessão de Cabinda e que ainda se encontra activa.[8] É da região de Cabinda que sai aproximadamente 65% do petróleo de Angola.

O país tem vastos recursos naturais, como grande reservas de minerais e de petróleo e, desde 1990, sua economia tem apresentado taxas de crescimento que estão entre as maiores do mundo, especialmente depois do fim da guerra civil. No entanto, os padrões de vida angolanos continuam baixos; cerca de 70% da população vive com menos de dois dólares por dia,[9] enquanto as taxas de expectativa de vida e mortalidade infantil no país continuam entre os piores do mundo, além da presença proeminente da desigualdade económica, visto que a maioria da riqueza do país está concentrada em um setor desproporcionalmente pequeno da população.[10] Angola também é considerado um dos países menos desenvolvidos do planeta pela Organização das Nações Unidas[11] e um dos mais corruptos do mundo pela Transparência Internacional.[9][12]

Etimologia

O nome Angola é uma derivação portuguesa do termo bantu N’gola, título dos reis do Reino do Ndongo existente na altura em que os portugueses se estabeleceram em Luanda, no século XVI.[carece de fontes]

História

Primeiros habitantes

Reino do Ndongo

Mapa do antigo Reino do Ndongo.

Encontro de portugueses com a família real do Reino do Kongo.

Os habitantes originais de Angola foram caçadores-colectores Khoisan, dispersos e pouco numerosos. A expansão dos povos Bantu, chegando do Norte a partir do segundo milénio, forçou os Khoisan (quando não eram absorvidos) a recuar para o Sul onde grupos residuais existem até hoje, em Angola (ver mapa étnico), na Namíbia e no Botsuana.

Os Bantu eram agricultores e caçadores. Sua expansão, a partir da África Centro-Ocidental, se deu em grupos menores, que se relocalizaram de acordo com as circunstâncias político-económicas e ecológicas. Entre os séculos XIV e XVII, uma série de reinos foi estabelecida, sendo o principal o Reino do Congo que abrangeu o Noroeste da Angola de hoje e uma faixa adjacente da hoje República Democrática do Congo, da República do Congo e do Gabão; a sua capital situava-se em M’Banza Kongo e o seu apogeu se deu durante os séculos XIII e XIV. Outro reino importante foi o Reino do Ndongo, constituído naquela altura a Sul/Sudeste do Reino do Congo. No Nordeste da Angola actual, mas com o seu centro no Sul da actual República Democrática do Congo, constituiu-se, sem contacto com os reinos atrás referidos, o Reino da Lunda [nota 1].

Em 1482 chegou na foz do rio Congo uma frota portuguesa, comandada pelo navegador Diogo Cão que de imediato estabeleceu relações com o Reino do Congo. Este foi o primeiro contacto de europeus com habitantes do território hoje abrangido por Angola, contacto este que viria a ser determinante para o futuro deste território e das suas populações.

Período colonial

Ilustração da rainha Nzinga em negociações de paz com o governador português em Luanda em 1657.

Vista da cidade de Luanda em 1883.

A partir do fim do século XV, Portugal seguiu na região uma dupla estratégia. Por um lado, marcou continuamente presença no Reino do Congo, por intermédio de (sempre poucos, mas influentes) padres cultos (portugueses e italianos) que promoveram uma lenta cristianização e introduziram elementos da cultura europeia. Por outro, estabeleceu em 1575 uma feitoria em Luanda, num ponto de fácil acesso ao mar e à proximidade dos reinos do Congo e de Ndongo. Gradualmente tomaram o controle, através de uma série de tratados e guerras, de uma faixa que se estendeu de Luanda em direcção ao Reino do Ndongo. Este território, de uma dimensão ainda bastante limitada, passou mais tarde a ser designado como Angola. Por intermédio dos Reinos do Congo, do Ndongo e da Matamba, Luanda desenvolveu um tráfico de escravos com destino a Portugal, ao Brasil e à América Central que passou a constituir a sua base económica.[13] Este processo tem que ser visto contra o pano de fundo de um sistemático tráfego de escravos a partir de Luanda [14]

Os holandeses ocuparam Angola entre 1641 e 1648, procurando estabelecer alianças com os estados africanos da região. Em 1648, Portugal retomou Luanda e iniciou um processo de conquista militar dos estados do Congo e Ndongo que terminou com a vitória dos portugueses em 1671, redundando num controle sobre aqueles reinos.[15]

Entretanto, Portugal tinha começado a estender a sua presença no litoral em direcção ao Sul. Em 1657 estabeleceu uma povoação perto da actual cidade de Porto Amboim, transferida em 1617 para a actual Benguela que se tornou numa segunda feitoria, independente da de Luanda. Benguela assumiu aos poucos o controle sobre um pequeno território a norte e leste, e iniciou por sua vez um tráfego de escravos, com a ajuda de intermediários africanos radicados no Planalto Central da Angola de hoje.

Embora tenha, desde o início da sua presença em Luanda e Benguela, havido ocasionais incursões dos portugueses para lá dos pequenos territórios sob o seu controle, esforços sérios de penetração no interior apenas começaram nas primeiras décadas do século XIX, abrandado em meados daquele século, mas recomeçando com mais vigor nas suas últimas décadas.[16] Estes avanços eram em parte militares, visando o estabelecimento de um domínio duradouro sobre determinadas regiões, e tiveram geralmente que vencer, pelas armas, uma resistência maior ou menor das respectivas populações.[17] Em outros casos tratou-se, no entanto, apenas de criar postos avançados destinados a facilitar a extensão de redes comerciais. Formas particulares de penetração económica foram desenvolvidas no Sul, a partir de Moçâmedes (hoje Namibe).[18] Finalmente, houve naquele século a implantação das primeiras missões católicas para lá dos perímetros controlados por Luanda e Benguela.[19]

Soldados portugueses embarcando para Angola durante a Primeira Guerra Mundial

No momento em que se realizou em 1884/85 a Conferência de Berlim, destinada a acertar a distribuição de África entre as potências coloniais, Portugal pode portanto fazer valer uma presença secular em dois pontos do litoral, e uma presença mais recente (administrativa/militar, comercial, missionária) numa série de pontos do interior, mas estava muito longe de uma “ocupação efectiva” do território hoje abrangido por Angola [nota 2].

Perante a ameaça das outras potências coloniais, de se apropriarem de partes do território reclamada por Portugal, este país iniciou finalmente, na sequência da Conferência de Berlim, um esforço que visava a ocupação de todo o território da Angola actual. Dados os seus recursos limitados, os progressos neste sentido foram, no entanto, lentos: ainda em 1906, apenas 5% a 6% dos territórios podiam, com alguma razão, ser considerados “efectivamente ocupados”.[21] Só depois do advento da República em Portugal, em 1910, a expansão do Estado colonial avançou de forma mais consequente. Em meados dos anos 1920 estava alcançado um domínio integral do território, muito embora houvesse ainda em 1941 um breve surto de “resistência primária”, da parte da etnia Vakuval [nota 3]. Embora lento, este esforço de ocupação não deixou, porém, de provocar novas dinâmicas sociais, económicas e políticas [nota 4].

Processo de descolonização

 Guerra de Independência de Angola

Bandeira proposta, mas nunca aprovada, para a Província Ultramarina de Angola.

Alcançada a desejada “ocupação efectiva”, Portugal – melhor dito: o regime ditatorial entretanto instaurado naquele país por António de Oliveira Salazar – concentrou-se em Angola na consolidação do Estado colonial. Esta meta foi atingida com alguma eficácia. Num lapso de tempo relativamente curto foi edificada uma máquina administrativa dotada de uma capacidade não sem falhas, mas sem dúvida significativa de controle e de gestão. Esta garantiu o funcionamento de uma economia assente em dois pilares: o de uma imigração portuguesa que, em poucas décadas, fez subir a população europeia para mais de 100 000, com uma forte componente empresarial, e o de uma população africana sem direito à cidadania, na sua maioria – ou seja, com a excepção dos povos (agro-)pastores do Sul – remetida para uma pequena agricultura orientada para os produtos exigidos pelo colonizador (café, milho, sisal), pagando impostos e taxas de vária ordem, e muitas vezes obrigada, por circunstâncias económicas e/ou pressão administrativa, a aceitar trabalhos assalariados geralmente mal pagos [nota 5].

Nos anos 1950 começou a articular-se uma resistência multifacetada contra a dominação colonial, impulsionada pela descolonização que se havia iniciado no continente africano, depois do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.[22] Esta resistência, que visava a transformação da colónia de Angola em país independente, desembocou a partir de 1961 num combate armado contra Portugal que teve três principais protagonistas:

Logo depois do início do conflito armado, uma “ala liberal” no seio da política portuguesa impôs uma reorientação incisiva da política colonial. Revogando já em 1962 o Estatuto do Indigenato e outras disposições discriminatórias, Portugal concedeu direitos de cidadão a todos os habitantes de Angola [nota 7] que de “colónia” passou a “província” e mais tarde a “Estado de Angola”. Ao mesmo tempo expandiu enormemente o sistema de ensino, dando assim à população negra possibilidades inteiramente novas de mobilidade social – pela escolarização e a seguir por empregos na função pública e na economia privada [nota 8]. A finalidade desta reorientação foi a de ganhar “mentes e corações” das populações angolanas para o modelo de uma Angola multi-racial que continuasse a fazer parte de Portugal, ou ficar estreitamente ligado à “Metrópole”.

Soldados portugueses nas matas angolanas durante a Guerra de Independência de Angola (1961-1974).

Esta opção foi, no entanto, rejeitada pelos três movimentos de libertação que continuaram a sua luta. Nesta começaram, porém, a registar-se mais retrocessos do que progressos, e nos primeiros anos 1970 as hipóteses de conseguir a independência pelas armas tornaram-se muito fracas. Na maior parte do território a vida continuou com a normalidade colonial. É certo que houve uma série de medidas de segurança, das quais algumas – como controles de circulação, ou o estabelecimento de “aldeias concentradas” em zonas como o Planalto Central. no Kwanza Norte e no Kwanza Sul [nota 9] – afectaram a população em grau maior ou menor.

A situação alterou-se completamente quando em Abril de 1974 aconteceu em Portugal a Revolução dos Cravos, um golpe militar que pôs fim à ditadura em Portugal. Os novos detentores do poder proclamaram de imediato a sua intenção de permitir sem demora o acesso das colónias portuguesas à independência.[23]

A perspectiva da independência provocada pela Revolução dos Cravos em Portugal, em Abril de 1974, e a cessação imediata dos combates por parte das forças militares portuguesas em Angola, levou a uma acirrada luta armada pelo poder entre os três movimentos e os seus aliados: a FNLA entrou em Angola com um exército regular, treinado e equipado pelas forças armadas do Zaire, com o apoio dos EUA; o MPLA conseguiu mobilizar rapidamente a intervenção de milhares de soldados cubanos, com o apoio logístico da União Soviética; a UNITA obteve o apoio das forças armadas do regime de apartheid então reinante na África do Sul. Esforços do novo regime português para que se constituísse um governo de unidade nacional não tiveram êxito. Entretanto, a luta da liderança do MPLA pelo poder, antes e depois da declaração da independência, causou inúmeras vítimas.[24]

O conflito armado levou à saída – com destino a Portugal, mas também à África do Sul e ao Brasil – da maior parte dos cerca de 350 000 portugueses que na altura estavam radicados em Angola.[25] Em consequência da política colonial, estes constituíam a maior parte dos quadros do território, o que levou a que a administração pública, a indústria, a agricultura e o comércio caíssem em colapso. Por outro lado os Ovimbundu que tinham sido recrutados pela administração colonial para trabalhar nas plantações de café e tabaco e nas minas de diamantes do Norte, também decidiram voltar às suas terras de origem no planalto central. A outrora próspera economia angolana caiu assim em decadência.[26]

No dia 11 de Novembro de 1975 foi proclamada a independência de Angola,[27] pelo MPLA em Luanda, e pela FNLA e UNITA, em conjunto no Huambo. As forças armadas Portuguesas que ainda permaneciam no território regressaram a Portugal.[28]

Independência, Guerra Civil e República

Recrutas da FNLA em um campo de refugiados angolano no Zaire em 1973.

A Guerra Civil Angolana foi um conflito armado que durou de 1975 a 2002. Na imagem, um edifício com várias marcas de balas na cidade de Huambo.

Com a independência de Angola começaram dois processos que se condicionaram mutuamente. Por um lado, o MPLA – que em 1977 adoptou o marxismo-leninismo como doutrina – estabeleceu um regime político e económico inspirado pelo modelo então em vigor nos países do “bloco socialista”, portanto monopartidário e baseado numa economia estatal, de planificação central. Enquanto a componente política deste regime chegou a funcionar dentro dos moldes postulados, embora com um rigor algo menor do que em certos países “socialistas” da Europa. A componente económica foi fortemente prejudicada pela luta armada e no fundo só se sustentou graças ao petróleo cuja exploração o regime confiou a companhias petrolíferas americanas.

Por outro lado, iniciou-se logo depois da declaração da independência a Guerra Civil Angolana entre os três movimentos, uma vez que a FNLA e, sobretudo, a UNITA não se conformaram nem com a sua derrota militar nem com a sua exclusão do sistema político. Esta guerra durou até 2002 e terminou com a morte, em combate, do líder histórico da UNITA, Jonas Savimbi. Assumindo raramente o carácter de uma guerra “regular”, ela consistiu no essencial numa guerra de guerrilha que nos anos 1990 envolveu praticamente o país inteiro [nota 10]. Ela custou milhares de mortos e feridos e destruições de vulto em aldeias, cidades e infraestruturas (estradas, caminhos de ferro, pontes). Uma parte considerável da população rural, especialmente a do Planalto Central e de algumas regiões do Leste, fugiu para as cidades ou para outras regiões, inclusive países vizinhos.

No fim dos anos 1990, o MPLA decidiu abandonar a doutrina marxista-leninista e mudar o regime para um sistema de democracia multipartidária e uma economia de mercado. UNITA e FNLA aceitaram participar no regime novo e concorreram às primeiras eleições realizadas em Angola, em 1992, das quais o MPLA saiu como vencedor. Não aceitando os resultados destas eleições, a UNITA retomou de imediato a guerra, mas participou ao mesmo tempo no sistema político.

Logo a seguir a morte do seu líder histórico, a UNITA abandonou as armas, sendo os seus militares desmobilizados ou integrados nas Forças Armadas Angolanas. Tal como a FNLA, passou a concentrar-se na participação, como partido, no parlamento e outras instâncias políticas. Na situação de paz, depois de quatro décadas de conflito armado, começou a reconstrução do país e, graças a um notável crescimento da economia, um desenvolvimento globalmente bastante acentuado, mas por enquanto com fortes disparidades regionais e desigualdades sociais. A paz está também a favorecer a consolidação de uma identidade social abrangente, “nacional”, que começou a formar-se paulatinamente a partir dos anos 1950.

Politicamente, continua a haver um forte predomínio do MPLA, que obteve claras maiorias parlamentares nas eleições realizadas em 1992, 2008 e 2012, garantindo a permanência nas funções de Presidente do Estado, desde 1979, do presidente do partido, José Eduardo dos Santos. Enquanto a FNLA desapareceu praticamente da cena, a UNITA consolidou, nas eleições de 2012, a sua posição como principal partido de oposição. A nível económico, Angola registou por um lado um forte crescimento, enfrentando, por outro lado, dificuldades que a obrigaram a solicitar o apoio do FMI, não conseguindo travar o surgimento de desigualdades económicas e sociais muito acentuadas.[29]

Geografia

Angola situa-se na costa atlântica Sul da África Ocidental, entre a Namíbia e a República do Congo. Também faz fronteira com a República Democrática do Congo e a Zâmbia, a oriente. O país está dividido entre uma faixa costeira árida, que se estende desde a Namíbia chegando praticamente até Luanda, um planalto interior húmido, uma savana seca no interior sul e sudeste, e floresta tropical no norte e em Cabinda. O rio Zambeze e vários afluentes do rio Congo têm as suas nascentes em Angola. A faixa costeira é temperada pela corrente fria de Benguela, originando um clima semelhante ao da costa do Peru ou da Baixa Califórnia. Existe uma estação das chuvas curta, que vai de Fevereiro a Abril. Os Verões são quentes e secos, os Invernos são temperados. As terras altas do interior têm um clima suave com uma estação das chuvas de Novembro a Abril, seguida por uma estação seca, mais fria, de Maio a Outubro. As altitudes variam bastante, encontrando-se as zonas mais interiores entre os 1 000 e os 2 000 metros. As regiões do norte e Cabinda têm chuvas ao longo de quase todo o ano. A maioria dos rios de Angola nasce no planalto do Bié, os principais são: o Kwanza, o Cuango, o Cuando, o Cubango e o Cunene.[30]

Pontos extremos

Clima

Angola, apesar de se localizar numa zona tropical, tem um clima que não é caracterizado para essa região, devido à confluência de três factores:

Em consequência, o clima de Angola é caracterizado por duas estações: a das chuvas, de Outubro a Abril e a seca, conhecida por Cacimbo, de Maio a Agosto, mais seca, como o nome indica e com temperaturas mais baixas. Por outro lado, enquanto a orla costeira apresenta elevados índices de pluviosidade, que vão decrescendo de Norte para Sul e dos 800 mm para os 50 mm, com temperaturas médias anuais acima dos 23 °C, a zona do interior pode ser dividida em três áreas:

  • Norte, com grande pluviosidade e temperaturas altas;
  • Planalto Central, com uma estação seca e temperaturas médias da ordem dos 19 °C;
  • Sul com amplitudes térmicas bastante acentuadas devido à proximidade do Deserto do Kalahari e à influência de massas de ar tropical.

Demografia

Pirâmide etária de Angola em 2012.

A população de Angola em 2014, depois do primeiro censo pós-independência e dos resultados definitivos do Recenseamento Geral da População e Habitação 2014, é de 25 789 024 habitantes, sendo 52 por cento do sexo feminino.[31][32] A população é composta por 37% de ovimbundu (língua umbundu), 25% de ambundu (língua kimbundu), 13% de bakongo e 32% de outros grupos étnicos (como os côkwes, os ovambos, os vambunda e os xindongas) como bem como cerca de 2% mestiços (mistura de europeus e africanos), 1,4%[carece de fontes] de chineses e 1% de europeus.[33] As etnias dos ambundu e ovimbundu formam, combinadas, a maioria da população (62%). A população do país deverá crescer para mais de 47 milhões de pessoas em 2060, quase duplicando o censo de 24,3 milhões em 2014.[34] O último censo oficial foi realizado em 1970 e mostrou que a população total era de 5,6 milhões habitantes.[35]

Estima-se que Angola recebeu pouco mais de doze mil refugiados e de cerca de três mil requerentes de asilo até o final de 2007. cerca de 11 mil desses refugiados eram originários da República Democrática do Congo (RDC, que chegaram em 1970.[36] Em 2008, estimou-se que havia aproximadamente 400 mil trabalhadores migrantes da RDC,[37] ao menos 30 mil portugueses[38] e cerca de 259 mil chineses vivendo em Angola.[39]

Desde 2003, mais de 400 mil imigrantes congoleses foram expulsos de Angola.[40] Antes da independência, em 1975, Angola tinha uma comunidade lusitana de cerca de 350 mil pessoas;[41] em 2013 existiam cerca de 200 mil portugueses são registados com os consulados.[42] A população chinesa é de 258 920 pessoas, em sua maioria composta por migrantes temporários.[43] A taxa de fecundidade total do país é de 5,54 filhos por mulher (estimativas de 2012), a 11ª maior do mundo.[44]

Línguas

Ver artigos principais: Línguas de Angola e Português de Angola

Mapa etno-linguístico de Angola em 1970

O português é a língua oficial de Angola [nota 11]. De entre as línguas africanas faladas no país, algumas têm o estatuto de língua nacional. Estas assim como as outras línguas africanas são faladas pelas respectivas etnias e têm dialectos correspondentes aos subgrupos étnicos.[45]

A língua étnica com mais falantes em Angola é o umbundu, falado pelos Ovimbundu na região centro-sul de Angola e em muitos meios urbanos. É língua materna de cerca de um terço dos angolanos.[46]

O kimbundu (ou quimbundo) é a segunda língua étnica mais falada – por cerca da quarta parte da população,[46] os Ambundu que vivem na zona centro-norte, no eixo LuandaMalanje e no Kwanza Sul. É uma língua com grande relevância, por ser a língua da capital e do antigo Reino do Ndongo. Foi esta língua que deu muitos vocábulos à língua portuguesa e vice-versa. O kikongo (ou quicongo) falado no norte, (Uíge e Zaire) tem diversos dialectos. Era a língua do antigo Reino do Kongo, e com a migração pós-colonial dos Bakongo para o Sul esta tem hoje uma presença significativa também em Luanda [nota 12]. Ainda nesta região, na província de Cabinda, fala-se o fiote ou ibinda. O chocué (ou tchokwe) é a língua do leste, por excelência. Tem-se sobreposto a outras da zona leste e é, sem dúvida, a que teve maior expansão pelo território da actual Angola, desde a Lunda Norte ao Cuando-Cubango. Kwanyama (Cuanhama ou oxikwanyama), nhaneca (ou nyaneca) e sobre tudo o umbundo são outras línguas de origem bantu faladas em Angola. No sul de Angola são ainda faladas outras línguas, algumas pertencentes ao grupo khoisan, faladas por pequenos grupos de san, também chamados bosquímanos, outras faladas por pequenas etnias bantu [47]

Embora as línguas étnicas sejam as habitualmente faladas pela maioria da população, o português é a primeira língua de 40%[48][49] da população angolana — proporção que se apresenta muito superior na capital do país —, enquanto cerca de 71% dos angolanos afirmam usá-la como primeira ou segunda língua.[50][51][52] Seis línguas étnicas têm o estatuto oficial de “língua nacional”: por ordem de importância numérica são o umbundu, o kimbundu, o kikongo, o côkwe, o ganguela e o cuanhama. Estas línguas ocupam um certo (limitado) espaço na comunicação social, em documentos (p.ex. avisos) exarados por entidades oficiais e na educação.

Religião

Em Angola existem actualmente cerca de 1000 religiões organizadas em igrejas ou formas análogas.[53] Dados fiáveis quanto aos números dos fiéis não existem, mas a grande maioria dos angolanos adere a uma religião cristã ou inspirada pelo cristianismo.[54] Cerca da metade da população está ligada à Igreja Católica, cerca da quarta parte a uma das igrejas protestantes introduzidas durante o período colonial: as baptistas, enraizadas principalmente entre os bakongo, as metodistas, concentradas na área dos ambundu, e as congregacionais, implantadas entre os ovimbundu, para além de comunidades mais reduzidas de protestantes reformados e luteranos. A estes há de acrescentar os adventistas, os neo-apostólicos e um grande número de igrejas pentecostais, algumas das quais com forte influência brasileira [nota 13]. Há, finalmente, duas igrejas do tipo sincrético, os kimbanguistas com origem no Congo-Kinshasa,[55] e os tocoistas que se constituíram em Angola,[56][57] ambas com comunidades de dimensão bastante limitada. É significativa, mas não passível de quantificação, a proporção de pessoas sem religião.

Os praticantes de religiões tradicionais africanas constituem uma pequena minoria, de carácter residual, mas entre os cristãos encontram-se com alguma frequência crenças e costumes herdados daquelas religiões. Há apenas 1 a 2% de muçulmanos, quase todos imigrados de outros países (p.ex. da África Ocidental), cuja diversidade não permite que constituam uma comunidade, apesar de serem todos sunitas [nota 14] Uma parte crescente da população urbana não tem ou não pratica qualquer religião, o que se deve menos à influência do Marxismo-Leninismo oficialmente professado nas primeira fase pós-colonial, e mais à tendência internacional no sentido de uma secularização. Em contrapartida, a experiência com a Guerra Civil Angolana e com a pobreza acentuada levaram muitas pessoas a uma maior intensidade da sua fé e prática religiosa, ou então a uma adesão a igrejas novas onde o fervor religioso é maior. A Igreja Católica, as igrejas protestantes tradicionais e uma ou outra das igrejas pentecostais têm obras sociais de alguma importância, destinadas a colmatar deficiências quer da sociedade, quer do Estado. Tanto a Igreja Católica como as igrejas protestantes tradicionais pronunciam-se ocasionalmente sobre problemas de ordem política [nota 15]. O seu papel nas guerras anti-colonial e civil tem dado margem a controvérsias.[60]

Governo e política

Administração

O regime político vigente em Angola é o presidencialismo, em que o Presidente da República é igualmente chefe do Governo, que tem ainda poderes legislativos. O ramo executivo do governo é composto pelo presidente João Lourenço, pelo vice-presidente Bornito de Sousa e pelo Conselho de Ministros. Os governadores das 18 províncias são nomeados pelo presidente e executam as suas directivas. A Lei Constitucional de 1992 estabelecia as linhas gerais da estrutura do governo e enquadra os direitos e deveres dos cidadãos. O sistema legal baseia-se no português e direito consuetudinário, mas é fraco e fragmentado. Existem tribunais só em 12 dos mais de 140 municípios do país.

Entre os aspectos que merecem uma atenção especial estão os decorrentes das políticas chamadas de descentralização e desconcentração, adoptadas nos últimos anos, e que remetem para a necessidade de analisar a realidade política a nível regional (sobe tudo provincial) e local [nota 16]. Por outro lado, começa a fazer sentir-se um certo peso internacional de Angola, particularmente a nível regional, devido à sua força económica e ao seu poderia militar.[61]

O que estes mecanismos significam na prática só pode ser compreendido contra o pano de fundo do peso esmagador, em termos de resultados eleitorais e de detenção e exercício do poder, do partido que se impôs no processo de descolonização e na guerra civil que se lhe seguiu, o MPLA. Com efeito, o regime acima descrito situa-se na categoria de sistema de partido dominante que tudo faz para perpetuar-se.[62]

Em 2014, Angola subiu dois lugares no ranking mundial de E-Government, de acordo com o relatório do Índice de Desenvolvimento de E-Government publicado pela ONU, que analisa o uso da tecnologia de informação e comunicação por parte dos governos na divulgação de informações e serviços públicos na Internet. A média no Índice de Desenvolvimento de E-Government em África é de 0,27. Angola encontra-se acima da média africana com um índice de desenvolvimento de 0,3.[63][64]

Problemas

Manuel Domingos Vicente exonerado Vice-Presidente de 2012 a 2017

Entretanto, a guerra civil de 27 anos causou grandes danos às instituições políticas e sociais do país. As Nações Unidas estimam em 1,8 milhão o número de pessoas internamente deslocadas, enquanto que o número mais aceite entre as pessoas afectadas pela guerra atinge os 4 milhões. As condições de vida quotidiana em todo o país e especialmente em Luanda (que tem uma população de cerca de 4 milhões, embora algumas estimativas não oficiais apontem para um número muito superior) espelham o colapso das infraestruturas administrativas bem como de muitas instituições sociais. A grave situação económica do país inviabiliza um apoio governamental efectivo a muitas instituições sociais. Há hospitais sem medicamentos ou equipamentos básicos, há escolas que não têm livros e é frequente que os funcionários públicos não tenham à disposição aquilo de que necessitam para o seu trabalho. Além disso, o país foi classificado como “não-livre” pela Freedom House em seu relatório Freedom in the World de 2013, onde a organização também observa que as eleições parlamentares de agosto 2012, em que o Movimento Popular de Libertação de Angola ganhou mais de 70% dos votos, teve graves falhas, como listas de eleitores desatualizadas e imprecisas.[65] Além disso, o país também é classificado como um “regime autoritário” e como uma das nações menos democráticas do mundo, ao ficar na 133ª posição entre os 167 países analisados pelo Índice de Democracia de 2011, calculado pela Economist Intelligence Unit.[66] Angola também ficou em uma posição ruim no Índice Ibrahim de Governança Africana de 2013, quando foi classificada na 39ª posição entre os 52 países da África Subsaariana, com uma avaliação particularmente ruim em áreas como “Participação e Direitos Humanos”, “Oportunidade Económica Sustentável” e “Desenvolvimento Humano”. O Índice Ibrahim utiliza uma série de variáveis diferentes para compilar sua classificação, que reflete o estado dos governos na África.[67] Angola também é considerada um dos mais corruptos do mundo pela Transparência Internacional.[9][12]

Aparentemente inspirada pelas revoltas populares em diferentes países árabes, correram em Fevereiro/Março de 2011 iniciativas para organizar pela Internet, em Luanda, demonstrações de protesto contra o regime.[68] [nota 17]. Uma nova manifestação, visando em particular a pessoa do Presidente, teve lugar em inícios de Setembro de 2011.[69]

Sistema eleitoral

Em 5 e 6 de Setembro de 2008 foram realizadas eleições legislativas, as primeiras eleições desde 1992. As eleições decorreram sem sobressaltos e foram consideradas válidas pela comunidade internacional, não sem antes diversas ONG e observadores internacionais terem denunciado algumas irregularidades. O MPLA obteve mais de 80% dos votos, a UNITA cerca de 10%, sendo os restantes votos distribuídos por uma série de pequenos partidos, dos quais apenas um (PRS, regional da Lunda) conseguiu eleger um deputado. O MPLA pode portanto neste momento governar com uma esmagadora maioria {{Nota de rodapé|Uma descrição da situação daí resultante encontra-se em «BTI 2010 – Angola Country Report». BTI. Consultado em 25 de agosto de 2011..

De acordo com a nova Constituição, aprovada em Janeiro de 2010,[70] passam a não se realizar eleições presidenciais, sendo o Presidente e o Vice-presidente os cabeças-de-lista do partido que tiver a maioria nas eleições legislativas.[71][72] A nova constituição tem sido criticada por não consolidar a democracia e usar os símbolos do MPLA como símbolos nacionais[73][74] [nota 18].

O regime angolano realizou as primeiras Eleições Gerais a 31 de agosto de 2012, um modelo constitucional novo, que surge na sequência da junção das eleições legislativas com as presidenciais,[76] respeitando pela primeira vez o prazo constitucional de 4 anos entre eleições. Para além dos 5 partidos com assento na Assembleia Nacional – MPLA, UNITA, PRS (Partido da Renovação Social), FNLA, ND (Nova Democracia) – existiam mais 67 partidos em princípio habilitados para concorrer.[77] José Eduardo dos Santos anunciou em dado momento a sua intenção de não ser novamente candidato, mas acabou por encabeçar a lista do seu partido. Como o MPLA ganhou novamente as eleições, com cerca de 71% (175 deputados), ele foi automaticamente eleito Presidente, em conformidade com as regras constitucionais em vigor. A UNITA aumentou a sua cota para cerca de 18% (32 deputados), e a Convergência Ampla para a Salvação de Angola (CASA), recentemente fundada por Abel Epalanga Chivukuvuku, obteve 6% (8 deputados). Para além destes três partidos, conseguiram ainda entrar no parlamento, com votações ligeiramente inferiores a 2%, o Partido da Renovação Social (PRS, 3 deputados) e a FNLA (2 deputados).[78] São muito significativas as disparidades entre regiões, especialmente quanto aos resultados dos partidos da oposição: nas províncias de Cabinda e de Luanda, a oposição obteve p.ex. cerca de 40% dos votos, e a parte da UNITA foi de cerca de 30% no Huambo e em Luanda, e de 36% no Bié.[79] A taxa de abstenção foi a mais alta verificada desde o início das eleições multipartidárias: 37.2%, contra 12.5% em 2008.

Relações internacionais

A 16 de Outubro de 2014, Angola foi eleita pela segunda vez membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com 190 votos favoráveis de um total de 193. O mandato teve início a 1 de Janeiro de 2015 e uma duração de dois anos.[80]

Desde Janeiro de 2014 que a República de Angola ocupa a presidência da Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos (CIRGL).[81] Em 2015, o secretário executivo da CIRGL, Ntumba Luaba, afirmou que Angola é o exemplo a ser seguido pelos membros da organização, devido aos avanços significativos registados ao longo dos 12 anos de paz, nomeadamente ao nível da estabilidade sócio-económica e político-militar.[82]

Justiça

Um Supremo Tribunal serve como tribunal de apelação. O Tribunal Constitucional é o órgão supremo da jurisdição constitucional, teve a sua Lei Orgânica aprovada pela Lei n.° 2/08, de 17 de Junho, e a sua primeira tarefa foi a validação das candidaturas dos partidos políticos às eleições legislativas de 5 de Setembro de 2008.

Está previsto entrar em vigor um novo Código Penal angolano ainda em 2014, resultado da revisão, já concluída, da legislação em vigor. Segundo o juiz conselheiro do Tribunal Constitucional angolano, Tomás Miguel , que coordena a Comissão de Reforma da Justiça e do Direito (CRJD), a tipificação do crime de branqueamento de capitais é uma das novidades previstas na nova legislação.[83]

Subdivisões

Ver artigo principal: Subdivisões de Angola
Mapa das subdivisões de Angola.

Angola tem a sua divisão administrativa composta por 18 províncias (listadas abaixo). A divisão administrativa do território mais pequena é o bairro na cidade, enquanto que nos meios rurais é a povoação.

As províncias estão divididas em municípios, que por sua vez se subdividem em comunas.

Economia

Ver artigo principal: Economia de Angola

Sede da Sonangol, a empresa estatal angolana do ramo petrolífero. Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África subsaariana, atrás apenas da Nigéria.[84]

A economia de Angola caracterizava-se, até à década de 1970, por ser predominantemente agrícola, sendo o café sua principal cultura. Seguiam-se-lhe cana-de-açúcar, sisal, milho, óleo de coco e amendoim. Entre as culturas comerciais, destacavam-se o algodão, o tabaco e a borracha. A produção de batata, arroz, cacau e banana era relativamente importante. Os maiores rebanhos eram de gado bovino, caprino e suíno.

Angola é rica em minerais, especialmente diamantes, petróleo e minério de ferro; possui também jazidas de cobre, manganês, fosfatos, sal, mica, chumbo, estanho, ouro, prata e platina. As minas de diamante estão localizadas perto de Dundo, no distrito de Luanda. Importantes jazidas de petróleo foram descobertas em 1966, ao largo de Cabinda, e mais tarde ao largo da costa até Luanda, tornando Angola num dos importantes países produtores de petróleo, com um desenvolvimento económico possibilitado e dominado por esta actividade. Em 1975 foram localizados depósitos de urânio perto da fronteira com a Namíbia.

As principais indústrias do território são as de beneficiamento de oleaginosas, cereais, carnes, algodão e tabaco. Merece destaque, também, a produção de açúcar, cerveja, cimento e madeira, além do refino de petróleo. Entre as indústrias destacam-se as de pneus, fertilizantes, celulose, vidro e aço. O parque fabril é alimentado por cinco usinas hidroeléctricas, que dispõem de um potencial energético superior ao consumo.

O sistema ferroviário de Angola compõe-se de cinco linhas que ligam o litoral ao interior. A mais importante delas é a estrada de ferro de Benguela, que faz a conexão com as linhas de Catanga, na fronteira com o Zaire. A rede rodoviária, em sua maioria constituída de estradas de segunda classe, liga as principais cidades. Os portos mais movimentados são os de Luanda, Lobito, Benguela, Namibe e Cabinda. O aeroporto de Luanda é o centro de linhas aéreas que põem o país em contacto com outras cidades africanas, europeias e americanas.

Principais produtos de exportação de Angola em 2009 (em inglês).

Vista aérea de novos condomínios residenciais construídos no sul de Luanda.

Contêineres no porto de Luanda.

Um problema estrutural sério da economia angolana é a desigualdade muito marcada entre as diferentes regiões, em parte causadas pela guerra civil prolongada. O dado mais eloquente é a concentração de cerca de um terço da actividade económica em Luanda e na província contígua do Bengo, enquanto em várias áreas do interior se verificam até processos de regressão.[85]

Uma característica cada vez mais saliente da economia angolana é a de uma parte substancial dos investimentos privados, tornados possíveis graças a uma acumulação exorbitante na mão de uma pequena franja da sociedade (ver em baixo), é canalizada para fora do país. Por agora, Portugal é o alvo preferencial destes investimentos, que se verifica na banca, energia, telecomunicações e comunicação social, mas também na vinicultura e fruticultura, em imóveis bem como em empreendimentos turísticos.[86]

Angola tem feito diversos investimentos e apostas na formação de novos empreendedores e na criação de novos negócios e subsequentes empregos,[87] bem como na formulação de parcerias com outros países, liderando a Conferência Empresarial dos PALOPs,[88] mantendo sempre uma relação mutuamente benéfica com Portugal –cujas exportações de Angola para este totalizaram 1,127 mil milhões de euros, nos primeiros quatro meses de 2013.[89] Os investimentos em Angola estão também em ascensão por parte de países fora da área da lusofonia: segundo a ANIP (Associação Nacional de Investimento Privado) o investimento em Angola tem sido crescente e muito acentuado.[90]

Os benefícios do crescimento económico de Angola chegam de maneira bastante desigual à população. É visível o rápido enriquecimento de um segmento social ligado aos detentores do poder político, administrativo e militar [nota 19]. Um leque de “classes médias” encontra-se em formação nas cidades onde se concentram mais de 50% da população. No país, grande parte da população vive em condições de pobreza relativa, com grandes diferenças entre as cidades e o campo: um inquérito realizado em 2008 pelo Instituto Nacional de Estatística indica que 37% da população angolana vive abaixo da linha de pobreza, especialmente no meio rural (o índice de pobreza é de 58,3%, enquanto o do meio urbano é de apenas 19%)[91][nota 20]. Nas cidades grande parte das famílias, além dos classificados como pobres, está remetida para estratégias de sobrevivência.[92] Nas área urbanas, também as desigualdades sociais são mais evidentes, especialmente em Luanda.[93]

O advento da paz militar, em 2002, permitiu um balanço diferenciado dos problemas económicos e sociais extremamente complexos que se colocavam ao país, mas também do leque de possibilidades que se abriam.[94] Os indicadores disponíveis até à data indicam que a lógica da economia política, seguida desde os anos 1980 e de maneira mais manifesta na década dos anos 2000, levou a um crescimento económico notável, em termos globais, mas ao mesmo tempo manteve e acentuou distorções graves, em termos sociais e também económicos.

Convém referir que, nas listas do Índice de Desenvolvimento Humano elaboradas pela ONU, Angola ocupa sempre um lugar entre os países mais mal colocados.[7][95][96]

Em Junho de 2014, o Brasil anunciou que apoia a candidatura de Angola a membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU. De acordo com a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, “Angola poderá oferecer um olhar atento e alternativas equilibradas aos actuais desafios da paz e segurança internacionais”.[97][98]

Com um stock de activos correspondentes a 70 mil milhões USD, (6,8 biliões Kz), Angola é hoje o terceiro maior mercado financeiro da África subsaariana, superada apenas pela Nigéria e África do Sul. De acordo com o Ministro da Economia angolano, Abraão Gourgel, o mercado financeiro do país cresceu modestamente a partir de 2002 e hoje situa-se em terceiro lugar a nível da África Subsaariana.[99]

Em 2013 Angola foi o país africano que mais investimentos realizou no estrangeiro, especialmente em Portugal, revelou um relatório da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento. O facto de Angola se ter assumido como emissor de investimento directo estrangeiro é particularmente surpreendente, tendo em conta o grande volume de investimentos que o país recebeu nos últimos anos, principalmente ao nível da exploração petrolífera e do gás natural, bem como de infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias.[100]

Globalmente os países da África Subsaariana têm vindo a conseguir melhorias significativas ao nível do bem-estar das populações, de acordo com um relatório da Tony Blair Africa Governance Initiative em conjunto com o The Boston Consulting Group.[101] Angola tem investido em melhorar infra-estruturas em estado crítico, num investimento possível graças aos fundos de desenvolvimento provenientes do petróleo. Segundo o mesmo relatório, apenas 10 anos depois da Guerra Civil, os padrões de vida em Angola melhoraram surpreendentemente. A esperança média de vida aumentou de 46 anos em 2002 para 51 em 2011. As taxas de mortalidade infantis diminuíram de 25 por cento em 2001 para 19 por cento em 2010 e o número de alunos em escolas primárias triplicou desde 2001.[102] No entanto, as desigualdades económicas e sociais que têm vindo a ser uma característica do país não diminuiram, mas em muitos aspectos até acentuarem-se.

Em Agosto de 2014, a agência de notação financeira Moody’s divulgou uma nota aos mercados na qual previa um crescimento da economia de Angola de 7,8% em 2014.[103]

O FMI prevê que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) real venha a atingir em 2014 os 3,9 por cento. O Fundo Monetário Internacional (FMI) afasta assim a possibilidade de a curto prazo conceder novos empréstimos à economia angolana, pelo facto de esta reflectir “melhorias significativas” no ambiente macroeconómico e na gestão e transparência das contas nacionais.[104]

No dia 19 de Dezembro de 2014 arrancou o Mercado de Capitais em Angola. A BODIVA (Bolsa da Dívida e de Valores de Angola) recebeu o mercado secundário de dívida pública, estando previsto para 2015 o arranque do mercado de dívida corporativa, sendo que o mercado accionista só deverá ser uma realidade em 2016.[105]

Vista panorâmica da hidroelétrica de Capanda, na bacia do rio Kwanza, no município de Cacuso

Infraestrutura

Saúde

Uma pesquisa em 2007 concluiu que ter uma quantidade pequena ou deficiente de Niacina era comum em Angola. Angola está localizada na zona endêmicas de febre amarela. A partir de 2004, a relação dos médicos por população foi estimada em 7.7 por 100 mil pessoas. Em 2005, a expectativa de vida foi estimada em apenas 38.43 anos, uma das mais baixas do mundo.

Hospital Nossa Senhora da Paz, em Cubal.

A mortalidade infantil em 2005 foi estimada em 187.49 por 1000 nascidos vivos, as mais altas do mundo. A incidência de tuberculose em 1999 foi 271 por 100000 pessoas. Taxas de imunização de crianças de um ano de idade em 1999 foram estimadas em 22% de tétano, difteria e tosse convulsa e 46% para sarampo. Desnutrição afetado cerca de 53% das crianças abaixo de cinco anos de idade a partir de 1999. Desde 1975 e 1992, houve 300 mil mortes relacionadas com a guerra civil. A taxa global de morte foi estimada em 24 por 1000 em 2002. Embora se mantenha entre os países com as taxas de expectativa de vida mais baixas e de mortalidade infantil mais altas do mundo,[10] desde 2002 a esperança de vida em Angola passou de 47 para 51 anos e a mortalidade infantil baixou de 250 para 195 em mil.[106]

A prevalência de HIV/SIDA foi 3.90 por 100 adultos em 2003. Em 2004, havia aproximadamente 240000 pessoas que vivem com HIV/SIDA no país. Estima-se que houve 21 000 mortes de SIDA em 2003. Em 2000, 38% da população tiveram acesso à água potável e 44% tinham saneamento adequado.[107]

Em Setembro de 2014 foi criado por decreto presidencial o Instituto Angolano de Controlo de Câncer (IACC), que vai integrar o Serviço Nacional Saúde de Angola.[108] Um instituto oncológico que vai assumir-se como instituição de referência nas regiões central e austral de África.[109] O objectivo deste novo centro é assegurar a assistência médica e medicamentosa em oncologia, a implementação de políticas, programas e planos nacionais de prevenção, bem como o tratamento especializado.[110]

Em 2014, Angola lançou uma campanha nacional de vacinação contra o sarampo, alargada a todas as crianças com menos de 10 anos e que pretende percorrer todas as 18 províncias do País. A medida faz parte do Plano Estratégico de Eliminação do Sarampo 2014-2020 elaborado pelo Ministério da Saúde angolano e que prevê o reforço da vacinação de rotina e manuseamento correto dos casos de sarampo, campanhas nacionais, a introdução da segunda dose de vacinação contra a doença no calendário nacional de vacinação de rotina e vigilância epidemiológica activa do sarampo. Esta campanha decorreu em paralelo com uma acção de vacinação contra a poliomielite e a administração de vitamina A.[111]

Educação

Logo depois da independência do país, uma das prioridades foi a de expandir o ensino e de incutir-lhe um novo espírito. Neste sentido, mobilizaram-se não apenas os recursos humanos e materiais existentes em Angola, mas concluiu-se um acordo com Cuba que previu uma intensa colaboração deste país no sector da educação (como, por sinal, também no da saúde). Esta colaboração, de uma notável eficácia, durou 15 anos, e possibilitou avanços significativos em termos não apenas de uma cobertura do território como também de um aperfeiçoamento da qualidade dos professores e do seu ensino.[112]

Crianças estudando em uma sala de aula em condições precárias na cidade de Kuito, a capital da província de Bié

Escola de Ensino Secundário Mutu Ya Kevela em Luanda (antigo Liceu Nacional Salvador Correia).

Apesar destes avanços, a situação continua até hoje pouco satisfatória. Enquanto na lei o ensino em Angola é compulsório e gratuito até aos oito anos de idade, o governo reporta que uma percentagem significativa de crianças não está matriculada em escolas por causa da falta de estabelecimentos escolares e de professores.[113] Os estudantes são normalmente responsáveis por pagar despesas adicionais relacionadas com a escola, incluindo livros e alimentação.[113] Ainda continua a ser significante as disparidades na matrícula de jovens entre as áreas rural e urbana. Em 1995, 71,2% das crianças com idade entre 7 e 14 anos estavam matriculadas na escola.[113] É reportado que uma percentagem maior de rapazes está matriculada na escola em relação às raparigas.[113] Durante a Guerra Civil Angolana (1975-2002), aproximadamente metade de todas as escolas foi saqueada e destruída, levando o país aos actuais problemas com falta de escolas.[113] O Ministro da Educação contratou 20 mil novos professores em 2005 e continua a implementar a formação de professores.[113] Os professores tendem a receber um salário baixo, sendo inadequadamente formados e sobrecarregados de trabalho (às vezes ensinando durante dois ou três turnos por dia).[113] Professores também reportaram suborno directamente dos seus estudantes.[113] Outros factores, como a presença de minas terrestres, falta de recursos e documentos de identidade e a pobre saúde também afastam as crianças de frequentar regularmente a escola.[113] Apesar dos recursos alocados para a educação terem crescido em 2004, o sistema educacional da Angola continua a receber recursos muito abaixo do necessário.[113] A taxa de alfabetização é muito baixa, com 67,4% da população acima dos 15 anos que sabem ler e escrever português. Em 2001, 82,9% dos homens e 54,2% das mulheres estavam alfabetizados. Desde a independência de Portugal, em 1975, uma quantidade consideráveis de estudantes angolanos continuaram a ir todos os anos para escolas, instituições politécnicas e universidades portuguesas, brasileiras, russas e cubanas através de acordos bilaterais.

Por outro lado, verificou-se no ensino superior um crescimento notável. A Universidade Agostinho Neto,[114] pública, herdeira da embrionária “Universidade de Luanda” dos tempos coloniais, chegou a ter cerca de 40 faculdades espalhadas por todo o país; em 2009 foi desmembrada, continuando a existir como tal apenas em Luanda e na Província do Bengo, enquanto se constituíram, a partir das faculdades existentes, seis universidades autónomas, cada uma vocacionada para cobrir determinadas províncias, inclusive pelo sistema dos pólos noutras cidades: em Benguela e Universidade Katyavala Bwila, em Cabinda a Universidade 11 de Novembro, no Huambo a Universidade José Eduardo dos Santos, no Lubango a Universidade Mandume ya Ndemufayo, em Malanje (com Saurimo e Luena) a Universidade Lueij A’Nkonda. Além disto existe desde a independência a Universidade Católica de Angola,[115] em Luanda. A partir dos anos 1990, fundaram-se toda uma série de universidades privadas, algumas ligadas a universidades portuguesas como a Universidade Jean Piaget de Angola, a Universidade Lusófona de Angola, a Universidade Lusíada de Angola,[116] e a Angola Business School[117] (todas em Luanda), outras resultantes de iniciativas angolanas: a Universidade Privada de Angola com campus em Luanda e no Lubango, e em Luanda ainda a Universidade Metodista de Angola e a Universidade Técnica de Angola,[118] a Universidade Independente de Angola,[119] a Universidade Metropolitana de Angola,[120] a Universidade Oscar Ribas,[121] a Universidade Gregório Semedo[122] a Universidade de Belas[123] bem como o Instituto Superior de Ciências Sociais e Relações Internacionais. Todos estes estabelecimentos lutam, em grau maior e menor, com problemas de qualidade, e em Luanda alguns começam a ter problemas de procura.[124]

Em Setembro de 2014, o Ministério da Educação angolano anunciou que iria fazer um investimento de 16 milhões de euros na informatização de mais de 300 salas de aula em todo o país. O projecto inclui ainda a formação de professores a nível nacional, “visando a introdução e utilização das novas tecnologias de informação nas escolas primárias, reflectindo a melhoria da qualidade do ensino”.[125]

Telecomunicações

O sector das telecomunicações é considerado uma das áreas estratégicas em Angola.[126] Em Outubro de 2014 foi anunciada a construção do primeiro cabo submarino de fibra óptica do Hemisfério Sul.[127] O projecto visa conectar as cidades de Luanda (Angola) e Fortaleza (Brasil), permitindo uma ligação mais directa entre os dois continentes. Esta iniciativa tem como objectivo tornar Angola num hub do continente, melhorando a qualidade das ligações de Internet a nível nacional e internacional.[128]

O primeiro satélite artificial angolano denominado AngoSat-1, foi lançado a 26 de Dezembro de 2017 por volta das 20h00 WAT, com a previsão de entrar em órbita oito horas depois, isto é, por volta das 4h00 WAT do dia 27 de Dezembro de 2017, e permitirá assegurar telecomunicações em todo o território nacional e mais além. De acordo com Aristides Safeca, secretário de Estado das Telecomunicações, o satélite vai disponibilizar serviços de telecomunicações, televisão, internet e governo eletrónico, devendo permanecer em órbita “na melhor das hipóteses” durante 18 anos.[129]

Tecnologia

A gestão do domínio ‘.ao’, relativo a páginas de Internet, vai passar de Portugal para Angola em 2015, na sequência da aprovação de uma nova legislação pelo Governo angolano.[130] O despacho conjunto do ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, José Carvalho da Rocha, e da ministra da Ciência e Tecnologia, Maria Cândida Pereira Teixeira, refere que “no âmbito da massificação” daquele domínio angolano “estão criadas as condições para a transferência da raiz do domínio ‘.ao’ de Portugal para Angola”.[131]

Cultura

Escultura yombe do século XIX

Dança

No país, a dança distingue diversos géneros, significados, formas e contextos, equilibrando a vertente recreativa com a sua condição de veículo de comunicação religiosa, curativa, ritual e mesmo de intervenção social. Não se restringindo ao âmbito tradicional e popular, manifesta-se igualmente através de linguagens académicas e contemporâneas. A presença constante da dança no quotidiano, é produto de um contexto cultural apelativo para a interiorização de estruturas rítmicas desde cedo. Iniciando-se pelo estreito contacto da criança com os movimentos da mãe (às costas da qual é transportada), esta ligação é fortalecida através da participação dos jovens nas diferentes celebrações sociais (os jovens são os que mais se envolvem), onde a dança se revela determinante enquanto factor de integração e preservação da identidade e do sentimento comunitário.

Depois de vários séculos de colonização portuguesa, Angola acabou por também sofrer misturas com outras culturas actualmente presentes no Brasil, Moçambique e Cabo Verde. Com isto, Angola hoje destaca-se pelos mais diversos estilos musicais, tendo como principais: o Semba, o Kuduro, a Kizomba e a Rebita. Em 2014 foi inaugurada na província de Luanda, a Casa da Música de Talatona, um espaço de promoção e divulgação da música angolana, privilegiando o semba como forma de contribuir para a sua preservação, divulgação e perpetuação.[132]

Festas

Algumas das festas típicas de Angola são:

  • Festas do Mar: Estas festas tradicionais designadas por “Festas do Mar”, têm lugar na cidade do Namibe. Estas festas provêm de antiga tradição com carácter cultural, recreativo e desportivo. Habitualmente realizam-se na época de verão e é habitual terem exposições de produtos relacionados com a agricultura, pescas, construção civil, petróleos e agro-pecuária.[133]
  • Carnaval: O desfile principal realiza-se na avenida da marginal de Luanda. Vários corsos carnavalescos, corsos alegóricos desfilam numa das principais avenidas de Luanda e de Benguela.[133]
  • Festas das frutas: realizadas entre o verão e início do outono, simbolizam a alegria de uma lavoura farta na época da colheita. O enfoque da festa muda de acordo com a região, ex.: Festa da Uva ao noroeste, Festa. Da Manjuba Roxa ao sul.
  • Festas da Nossa Senhora de Muxima: O santuário da Muxima está localizado no Município da Kissama, Província do Bengo e durante todo o ano recebe milhares de fiéis. É uma festa muito popular que se realiza todos os anos e que inevitavelmente atrai inúmeros turistas, pelas suas características religiosas.[133]

Em 2014, Angola retomou a realização do Festival Nacional de Cultura (FENACULT), após 25 anos de interregno. O festival decorreu em todas as capitais provinciais do país entre 30 de Agosto e 20 de Setembro e teve como tema “A Cultura como Factor de Paz e Desenvolvimento”.[134][135]

Miss Universo

Leila Lopes, a 12 de setembro de 2011, trouxe o título de Miss Universo, pela primeira vez para Angola.[136]